quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

AS EPÍSTOLAS BÍBLICAS.



As Epístolas Bíblicas
Os livros do gênero didático, também chamado epistolar, do novo Testamento são as epístolas. O vocábulo epístola é latino e significa carta.
As epístolas são, pois, as cartas escritas por alguns apóstolos às comunidades, às Igrejas recém-formadas e a seus dirigentes com a finalidade de aconselhar, orientar, doutrinar e instruir seus destinatários.
Isso acontecia por causa da expansão do Cristianismo na Palestina, na Ásia Menor, em alguns pontos da Grécia e para estabelecer comunicação com as Igrejas nascentes. Foram elas escritas em grego e muito utilizadas porque este gênero estava em voga entre os romanos daquela época.
Seus nomes são tirados dos próprios destinatários ou de seus autores. São, ao todo, vinte e uma cartas. Dessas, quatorze são de Paulo e as restantes, de Pedro, Tiago, João e Judas. São classificadas como universais e pastorais. Aquelas, assim chamadas porque dirigidas a um conjunto de Igrejas; estas, a uma comunidade ou a uma pessoa particular. Todas, porém, com um objetivo comum: a comunicação, a doutrinação e a orientação.
Dos ensinamentos das epístolas, bastante numerosos, ressalta-se um de suma importância por causa de sua aparente discordância. Ele se encontra em Paulo e Tiago. Seu tema é a justificação. Paulo diz que “O homem é justificado pela fé sem as obras da Lei” (Rm 3, 27), e Tiago afirma que “A fé, se não tiver obras, está morta” (Tg 2, 14). Como conciliar estas aparentes contradições? É uma questão de hermenêutica.
Para se entender a afirmação de Paulo, tem-se que completá-la com suas outras epístolas, integrando-as numa síntese mais vasta. Dirigindo-se a outras Igrejas, o Apóstolo afirma: “Ainda que falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse caridade seria como o bronze que soa ou como o címbalo que tine” (1Cor 13,2). “... em Cristo Jesus, nem a circuncisão tem valor, nem a incircuncisão, mas a fé agindo pela caridade.” (Gal 5,6).
Uma interpretação muito simples leva a concluir que a fé de que fala Paulo é uma fé concreta, uma fé que age, uma fé que recebe da caridade o seu impulso e a sua forma. A fé de Paulo é, pois, uma fé atuante. E o que é isso se não obras? Então as obras, na doutrinas de Paulo, são também, necessárias à justificação.
São Tiago, tratando, em sua carta, da mesma doutrina, faz esta afirmação categórica: “Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhes disser: “Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos”, e não lhes der o necessário para sua manutenção, que proveito haverá disso? Assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento” (Tg 2,14).
A fé de que fala Tiago é um simples assentimento da inteligência às verdades reveladas, ato puramente intelectual que, neste caso, sozinha, não garante a justificação. Daí a necessidade das obras. Não basta somente crer. É necessário demonstrar essa crença em nossa vida. São as obras.
Não há, portanto, discordância de ensinamentos entre Paulo e Tiago. Paulo fala de uma fé atuante, livre, sem estar presa à letra da lei. Se ela é atuante, ela age.
Quando Tiago afirma que, sem obras, não há justificação, ele se refere ao crente puramente intelectual, aquele que se deleita somente em aceitar as verdades reveladas, mas não as põe em prática na sua vida. Por isso ele dá logo os exemplos.
A doutrina da justificação encontra suporte nos ensinamentos de Jesus Cristo quando Ele atribui a justificação a uma fé atuante: “Pois o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com seus anjos, e então retribuíra a cada um de acordo com seu comportamento” (Mt 16,27). “Vinde, Benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo, pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (Mt 25,34).
O advento é tempo propício para uma reflexão sobre nossa fé: ela é atuante, movida pela caridade, pela justiça ou, simplesmente, um ente de razão? Se ela for atuante, a justificação é certa. Se for racional, a justificação só será alcançada mediante as obras, coincidindo, assim, com a doutrina do apóstolo Paulo.
José Cajuaz Filho.
José Cajuaz Filho, professor de Língua Portuguesa e Latina da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Especialista em Tecnologia Educacional pela Faculdade de Filosofia de Fortaleza (FAFIFOR). Membro da Academia Cearense de Língua Portuguesa.


Fonte: José Cajuaz Filho / Revista Missões

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