domingo, 18 de janeiro de 2009

AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA TÊM IDADE, CLASSE SOCIAL E COR.





As vítimas da violência têm idade, classe social e cor.


Já no clima da CF 2009 e da Companha contra a violência e ao exterminio de jovens, um artigo para aperitivar nossas discussões. As vítimas da violência têm idade, classe social e cor. “Como poderiam os oprimidos dar início à violência, se eles são o resultado de uma violência anterior?” (Paulo Freire).


Surpreendentemente a juventude é encarada como protagonista da violência no país. A inversão dos fatos assombra, sendo que na grande maioria das vezes é a Juventude vítima das violências. Para além da violência física cometida pelos governos repressivos, o racismo, o machismo, a homofobia, a discriminação com a juventude, são expressões da violência psicológica contra as ditas minorias sociais, os principais alvos da segregação social: mulheres, negros, indígenas, homossexuais, empobrecidos e jovens.



O racismo, por exemplo, é encarado como superado pelo senso comum e pela grande mídia. Será mesmo? A realidade das universidades comparada à realidade dos presídios, não seria o racismo materializado? A discriminação social e racial transcendeu os muros ideológicos, agora também é coisa concreta: dividem objetivamente a sociedade, tornando os presídios cada vez mais pobres e mais negros, e as universidades, mais brancas e mais ricas, por exemplo.



“Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado”.



A nossa história está marcada pela violência dos poderosos contra os mais fracos, por isso ainda reflete o extermínio. Ela se inicia com o massacre de índios, com a exploração da mulher pelo homem, com a escravidão dos e das negras, concebidos todos e todas como coisa, não gente. Segundo Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros - 2008, entre 1996 e 2006 o índice de homicídios na população jovem teve um aumento de 31,3% enquanto na população total foi de 20%.



A pobreza tem cor, e no Brasil ela é negra. Os negros apresentam um índice de vitimização 73,1% superior aos brancos na população total e 85,3% superior na juventude. A violência contra os povos indígenas, ocorrida entre os anos de 2006 e 2007, aumentou mais de 60%, sendo a maioria jovens. A falta de demarcação das terras indígenas continua a ser o principal problema gerador de conflitos.



Sete milhões de jovens brasileiros, o dobro da população do Uruguai, não trabalham nem estudam. Se verificarmos a faixa etária nos presídios brasileiros, como afirma a Pastoral Carcerária, vamos constatar que os presos são em geral jovens, pobres, analfabetos e negros. Entretanto, a CNBB, no Texto-Base da CF 2009, nos alerta para as injustiças geradas ao associar pobreza à violência, pois, vemos que ela se manifesta em todas as camadas sociais, embora, seja a classe pobre a que mais sofre discriminação, sobretudo os jovens que muitas vezes são rotulados como delinqüentes, são excluídos e marginalizados.



Nossos jovens estão sendo exterminados dentro e fora dos presídios, “só no Distrito Federal, segundo dados do Ministério Público, entre 2003 e 2005, 178 jovens foram mortos enquanto cumpriam medida sócio educativa”. A realidade das penitenciárias brasileiras desumaniza as maiorias que não têm poder político ou econômico que lhes assegure gozar de privilégios, ao invés de reabilitar, funcionam como escolas do crime e promovem a violência.



A juventude, negra, indígena, branca, mulher e homem, homo e heterossexual, trabalhadora e desempregada, estudante e sem escola/ universidade, é capaz de reverter a lógica da violência, da exclusão étnica e social. Organizar-se, ocupar os espaços, movimentar as cidades, o campo, as escolas, reivindicar direitos, propor mudanças estruturais e urgentes, ideológicas e objetivas. Somente a própria juventude é capaz de combater as violências que a extermina.



Por acreditar nisso, as Pastorais da Juventude do Brasil – PJB está promovendo em todo o país, uma grande Campanha contra a violência e extermínio de jovens, em consonância com a Campanha da Fraternidade 2009 que propõe o debate sobre segurança pública. Todos/as são convocados a entrar nesta luta em defesa da vida!





Sugestões para desenvolver a Campanha:




• Trabalhar o conceito de violência em suas diversas formas: física, estrutural e simbólica, alargando o conceito que temos no senso comum;




• Incluir o tema da segurança pública, violência (dentro e fora da escola) e extermínio de jovens no planejamento escolar, tornando-o eixo transversal;




• Promover seminários, oficinas e palestras durante a campanha Contra a violência e Extermínio de Jovens (2009 e 2010), enfocando principalmente as causas do problema e apresentando possíveis soluções;




• Promover atividades lúdico-recreativas com a temática, (permitindo que os/as jovens mostrem livremente sua percepção desta problemática). Como por exemplo, festival de música, poesia e teatro, gincanas, etc;




• Criar grupos de reflexão sobre a violência, articulando-os a outras redes de discussão e manifestar-se diante de todas as formas de violência com abaixo-assinados, faixas, cartazes, passeatas, etc;




• Incentivar pesquisas sobre os índices de violência no local e a partir daí, desenvolver a produção de textos que podem ser trabalhados na comunidade;




• Atuar na perspectiva de mídia alternativa para divulgação dos trabalhos na linha da promoção dos direitos e cidadania, contra a violência e a favor da cultura da paz;




• Trabalhar a Semana da Cidadania no mês de abril nas escolas;




• Incentivar o engajamento dos/as jovens em comissões de direitos humanos (onde existem) para acompanhar o tratamento das políticas com relação aos/as jovens detentos/as, delinqüentes ou não. Onde não existem estas comissões, incentivar a criação das mesmas;




• Promover um amplo debate sobre a Redução da Maioridade Penal, fornecendo subsídios diversos à juventude estudantil e grupos de jovens, potencializando-os na tomada de posições, o que pode ser expandido para a população em geral.


















Tábata Silveira


Estudante de Direito


PJE – Sapucaia do Sul – RS e Secretária Nacional


















Maria Aparecida de J. Silva


Bacharel em Teologia pelo ISTEPAB – Instituto Superior de Teologia e Pastoral de Bonfim – Bahia e articuladora Nacional da PJB


























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