Completou-se o tempo, é quase uma expressão para dizer: já chega, chega de pecado, chega de vivermos mergulhados nesse mundo que vai nos deformando. Jesus vem até nossa praia, onde estamos gastando o nosso melhor, para anunciar que completou-se o tempo, converterdes e credes na Boa Nova, no Evangelho. O que significa crer no Evangelho? Significa assumir o Evangelho como proposta de vida.
Nos cremos em muitas coisas e em muitas pessoas. Todas as pessoas têm fé, até os ateus têm muita fé. Inclusive tem fé em gente estranha, desconhecida. Nós também temos fé em pessoas estranhas, em pessoas que não conhecemos e que nunca vimos. E temos fé a ponto de arriscar a nossa vida.
Eu viajo de avião toda semana, às vezes três ou quatro vezes por semana. Não sei o nome do piloto. Pode ser um daqueles que treinaram em bater em prédios. Mesmo assim eu confio. Às vezes termina a Tenda em São Paulo, meia noite em embarco em um ônibus que vai até Curitiba. Eu deito o banco e durmo. Eu não pergunto o nome do motorista, nem peço a carteira de motorista dele. Você chega em um restaurante, pede a comida e come. Mas não sabe quem fez, nem o que ele colocou na comida. Eu acredito em gente que eu nunca vi. Acreditamos na palavra do mundo, basta a televisão dar uma notícia ou o jornal falar alguma coisa, nós acreditamos. Nós estamos acreditando em palavras velhas, e péssimas velhas, velharias medonhas, horríveis, que nos matam, que nos cegam, que vai nos despersonalizando. E deixamos de acreditar na boa nova, no Evangelho. Por que nossa vida vai mal? Porque não tomamos posse da graça de Deus. Ficamos quase igual Ana, que tinha como rival a famosa Fenena, que todo ano ficava atazanando a Ana. E embora o Elcana lhe amava em dobro, mais que dez filhos, assim mesmo ela não tomava posse do amor do marido e ficava brava com a Fenena. Por isso, ela entra na angústia. Quem continuar lendo Samuel vai perceber que Ana vai chorar as mágoas em Deus, vai derramar o coração diante de Deus, essa foi a grande graça de Ana.
Por que nós estamos vivendo as velharias, as notícias estragadas do mundo, as notícias estragadas do pecado. Não tomamos posse do Evangelho em nossa vida, e Jesus que vem na nossa praia, se apresenta para nós e diz: “Completou-se o tempo, chega”. É preciso dar um basta, nós somos de Deus, mas se nós não acreditamos nisso, quem é que vai acreditar? Só que para tomar posse dessa graça Jesus mesmo já anuncia o caminho. “Convertei-vos” O que é convertei-vos? É mudar o rumo, é mudar de direção. Convertei-vos segundo o versículo 17,18 e o 20 é largar tudo. O barco, o trabalho, o pai e os empregados. E o texto diz que eles imediatamente deixaram as redes e seguiram. Imediatamente Jesus os chamou e eles deixaram tudo e puseram-se a seguir Jesus imediatamente. Nós não nos convertemos porque ficamos protelando as coisas.
“Se Deus me ajudar um dia eu vou deixar. Ah, se isso acontecer em minha vida eu vou mudar”. Por isso não muda. Eles largaram tudo no mesmo instante. Até a família. Isso significa que se minha família está me levando para o inferno eu tenho que desatar dela. Não posso viver com quem me leve para o inferno, não posso deixar o inferno entrar dentro da minha casa. Mesmo que seja através de meu pai, de minha mãe. Que seja através de meus irmãos. É preciso converter. Cada um de nós é chamado a romper com o pecado, por isso eu preciso perceber o que está me levando a pecar? O que está me prendendo? Por que não somos de Deus, vamos nos tornando pessoas fracas.
Vamos imaginar a seguinte cena: Uma assembléia, talvez do tamanho de um acampamento da Canção Nova, talvez um pouco menor. Mais ou menos três mil e poucos bispos, cardeais e padres do mundo inteiro, reunidos em Roma para a abertura do Concílio Vaticano II. João XXII, papa cujo corpo está intacto ainda na Basílica. Quando o papa Pio XII morreu, a imprensa dizia que a igreja já tinha um candidato a papa. De fato era um homem muito santo e que estava sendo muito bem preparado, e que depois se tornou papa que foi Paulo VII. Mas como Paulo VII era muito novo, foi então escolhido João XXIII, o patriarca de Veneza. Um homem muito simples, um homem colono.
Na opinião da imprensa era um homem que não iria mexer com nada na igreja. Ele já era meio velhinho, iria ficar ali por dois ou três anos cumprir uma vaga e depois que ele morresse viria o verdadeiro papa. Era isso que a imprensa pensava, mas não era o que Deus queria, e João XXIII, aquele homem cheio do Espírito Santo convocou o Concílio Vaticano II e na abertura do Vaticano II, imagine a cena, isso há quase cinqüenta anos atrás. Estavam lá todos os bispos vestidos a caráter, como os bispos se vestiam naquele tempo. Sua Santidade o papa entra no auditório ou no saguão principal da Basílica de São Pedro. Não tenho muita certeza. Estava lotado. E qual foi a primeira palavra de sua santidade? Ele tomou o microfone com aquele sorriso gordo e maravilhoso, olhou para aqueles bispos e cardeais e começou a sua palavra de abertura do Vaticano II: “Irmãos do Episcopado, peçamos a Deus, a graça da nossa conversão”.
Quando João XXIII falou essa frase, teve bispo que desmaiou na hora. Teve bispo que se levantou imediatamente e se retirou da igreja. Lepherve foi um deles, que se desligou da igreja católica. Ainda hoje no Brasil, há um grupo de católicos que não aceitam a Renovação da igreja, e celebram a missa em Latim. São seguidores de Lepherve que não aceitou. “Onde já se viu o papa falar para nós bispos que precisamos nos converter. Conversão é para os pagãos e para os judeus que mataram o Senhor. Conversão é para os ateus e não para nós bispos da igreja”. E não foi só Lepherve, aqui no Brasil tiveram alguns bispos. E se tiveram alguns que não tiveram a coragem de se levantar, quando voltaram para as suas Dioceses deixaram muito claro pelos seus escritos que não aceitariam um papa fazer um convite desses.
Pois João XXIII estava sendo um grande profeta naquele instante, e que nós precisamos repetir essa profecia hoje.
Pe. Léo, scj
Disponível em: http://www.bethania.com.br/pt/artigos/artigo.php?artigo=artigos_MTkw
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