A Quaresma, todos sabem, é tempo de conversão.
Mas, que significa, realmente, converter-se? Mudar de rumo, mudar de atitude, de modo de ver, sentir, pensar, agir... Tudo isso nós sabemos, tudo isso escutamos a cada tempo quaresmal.
A questão que este texto editorial gostaria de colocar é uma outra, no entanto. Qual o critério da conversão? Em outras palavras: se, para alguém converter-se, deve mudar de uma atitude para outra, qual o critério de tal mudança? Como saber o que mudar e para que direção apontar? Uma vez mais: qual o critério?
O critério é a Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo.
Somente escudando o Senhor – e escutar, aqui, significa não somente ouvir sua Palavra, mas pensar nele, contemplá-lo, observar seus modos, sua vida, suas atitudes, seus apelos, apreender seus sentimentos... Somente assim, abertos para o Senhor, poderemos perceber o que ele espera de nós, a que destino, a que objetivo nos quer levar. Olhando o Senhor e, depois, nos olhando, descobrimos a defasagem, o abismo entre o que ele espera de nós e o que nós somos de fato. À sua luz contemplamos a luz verdadeira e percebemos nossas incoerências, infidelidades, malandragens e egoísmos... Nasce, daí e aí, a compunção, aquela dor no coração, aquele aperto na alma, por não termos sido generosos e correspondentes ao amor de Deus. O coração compungido é o coração ferido de amor, ferido de pesar por não ter sido fiel ao amor do Deus que tanto nos ama. Brota, então, o sincero arrependimento e o verdadeiro pedido de perdão, sem máscaras, sem desculpas esfarrapadas: Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim: eu sou pecador!
Agora, sim, sabe-se de onde sair: de mim apegado a mim, de mim atolado em mim, de mim à minha medida; e sabe-se para onde ir: para o Cristo, com os modos de Cristo, os sentimentos de Cristo, os critérios de Cristo, à medida de Cristo, o Homem Perfeito. Converter-se, portanto, para os cristãos, é converter-se a Cristo, é dirigir-se a ele com toda a existência nossa. Não há outra finalidade na conversão a não ser alcançar Cristo; não há outro critério que não chegar a ser como Jesus Cristo; não há também, no cristianismo, outra conversão!
Já se falou em converter-se aos pobres, converter-se a tal pensamento, converter-se a tal e qual atitude. Para um cristão, repitamos, há uma só conversão: a Jesus Cristo. Qualquer nossa opção, qualquer nosso querer, qualquer nossa mudança, quaisquer correções que façamos na nossa vida, deve ter sempre e somente um escopo, perseguir um só objetivo: chegar a Jesus, ser-lhe fiel, segui-lo de perto e no seu coração descansar. Assim sendo, para falar como os teólogos, a conversão é uma realidade eminentemente cristológica e cristocêntrica!
Assim sendo, mãos à obra! Nesta santa Quaresma, deixemo-nos iluminar pela Palavra do Senhor e corajosamente vejamos, à luz do Cristo, o que deve ser mudado em nós. Não nos mascaremos. Compungidos, levantemo-nos, como o filho pródigo, e digamos: “Vou voltar! Vou dizer: pequei contra o céu e contra ti! Não sou digno!” E que a oração, a esmola e a penitência, sobretudo nos alimentos, sejam sinais externos dessa conversão interior...
Conêgo Henrique Soares da Costa.
Arquidiocese de Maceió.
Reitor da Igreja do Livramento (Centro de Maceió).
Disponível em: http://www.padrehenrique.com/editoriais_semeador.htm#
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