quarta-feira, 18 de março de 2009

É PRECISO RENUNCIAR AQUILO QUE AGRADA


Desde os tempos antigos, a quaresma foi considerada como um período de renovação da própria vida. As práticas a serem cumpridas eram, sobretudo, três: a oração, a luta contra o mal e o jejum. A oração para pedir a Deus forças para converter-se e acreditar no Evangelho. A luta contra o mal para dominar as paixões e o egoísmo. Por fim, o jejum. Para seguir o Mestre é preciso ter a força de esquecer de si mesmo, de não pensar no próprio conforto, mas no bem do seu irmão.
Assumir uma permanente atitude generosa e desinteressada é de fato difícil. Este é o jejum. Mas pode o sofrimento ser uma coisa boa? Como pode agradar a Deus a nossa dor? Não! Deus não quer que o homem sofra. Todavia, para ajudar o necessitado, é preciso muitas vezes renunciar àquilo que agrada, e isso custa sacrifício.
Não é o jejum em si que é bom (às vezes é feito por motivos que não tem nada a ver com religião: há quem se alimente com parcimônia simplesmente para manter-se em boa forma física, para tornar-se elegante, para estar com boa saúde). O que agrada a Deus é que, com o alimento que se consegue economizar com o jejum, se alivia, pelo menos por um dia, a fome de um irmão.
Um livro muito antigo, muito lido pelos primeiros cristãos, o Pastor de Hermas, explica deste modo a ligação entre o jejum e a caridade: “Eis como deverás praticar o jejum: durante o dia de jejum, comerás somente pão e água, depois calcularás quanto terias gasto para o seu alimento naquele dia e oferecerás esse dinheiro a uma viúva, a um órfão ou a um pobre; assim tu te privarás de alguma coisa para que o teu sacrifício seja útil para alguém poder alimentar-se. Ele rezará ao Senhor por ti”.
“Se jejuares desse modo, o seu sacrifício será agradável a Deus”. Um famoso papa dos primeiros tempos da Igreja, chamado Leão Magno, dizia numa homilia: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Deste modo, o que tiverdes economizado nos gastos normais, se transforme em alimento para os pobres”. Quando foi instituída a quaresma, servia também como o tempo de preparação para a reconciliação. Na quaresma todos os cristãos são convocados a se aproximarem do sacramento da reconciliação.
Dom Moacyr José Vitti
Arcebispo de Curitiba-PR

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