À medida em que a Quaresma chega à sua conclusão, também a Campanha da Fraternidade (CF 2009) caminha para o seu encerramento, com a coleta da solidariedade, no Domingo de Ramos. As campanhas têm começo e fim. É claro que os impulsos e as iniciativas motivadas pela CF não devem acabar na Quaresma, mas deveriam continuar a produzir efeitos positivos ao longo do ano e por muito tempo. A CF é como um tempo de abundante semeadura: depois vem o tempo de cultivar, até que as plantas nascidas produzam frutos abundantes, com o passar do tempo.
A estas alturas, é preciso perguntar se a semeadura já aconteceu e quais foram as iniciativas já despertadas pela CF nas paróquias, comunidades e organizações da Igreja? O tempo está passando, mas ainda é possível fazer lançar as sementes,a para que em cada organização da nossa Igreja a CF não passe em branco e não deixe de fazer aquilo que ela se propõe, por iniciativa da Igreja no Brasil: um tempo intenso de evangelização e de apelo à conversão, para uma vivência pessoal e uma convivência social mais condizente com o Evangelho do Reino de Deus – “convertei-vos e crede no Evangelho!”.
O próprio Texto Base da CF, no seu “AGIR”, sugere uma série de iniciativas e ações concretas; as organizações eclesiais poderão ver outras, segundo as situações e necessidades locais. É importante que a CF deixe alguma marca na vida das comunidades e um sinal de continuidade. Entre outras iniciativas, por exemplo, poderiam ser organizados grupos de amparo às vítimas da violência em cada paróquia, com voluntários, assistentes sociais, médicos, advogados, psicólogos... Poderia ser também organizada uma espécie de “grupo-antena”, para receber as sinalizações sobre situações de violência na área e capaz de dar encaminhamentos aos órgãos públicos competentes...
Mas não há dúvida, que a CF tem sempre um efeito educativo importante e sobre este ponto deveriam ser concentradas muitas atenções. É preciso educar as consciências para os valores éticos e morais; o respeito ao próximo não deve acontecer somente por coerção externa, por medo da polícia ou da cadeia... A renúncia à violência e o respeito aos direitos humanos devem partir de convicções e motivações interiores: “imprimirei minha lei nas vossas entranhas e vou inscrevê-la em vossos corações” (cf Jr 31,33). Enquanto Igreja, não podemos deixar de falar dos Mandamentos da Lei de Deus e da Palavra de Deus, se queremos dar nossa efetiva contribuição para a educação moral, tão necessária para educar para a justiça social, o respeito à pessoa e para a superação dos pecados de violência.
Neste final da CF 2009, quero convidar a todos para a realização do gesto concreto de fraternidade, na coleta da CF no Domingo de Ramos. Que seja um gesto generoso e represente, de fato, um sinal de nossa penitência quaresmal e de nossa sensibilidade fraterna em relação às vítimas da violência; de muitas formas, elas serão beneficiadas com o fruto dessa coleta, feita em todas as igrejas católicas do Brasil. O montante recolhido é administrado e destinado para iniciativas concretas e acompanhadas pelas dioceses e pala Conferência dos Bispos. Com esse mesmo fruto, também poderão ser apoiadas muitas iniciativas de prevenção da violência e de educação para uma autêntica cultura da justiça e da paz.
Mas desejo ainda referir-me a um outro gesto de solidariedade, pedido pela Igreja, e que deve ser realizado na Sexta-Feira Santa em todas as nossas igrejas: trata-se da Coleta para os Lugares Santos. Seu fruto destina-se a apoiar a presença cristã na Terra Santa, onde as comunidades cristãs, na sua maioria, são de árabes palestinos e sofrem enormes dificuldades para manterem sua presença na terra onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou, e onde, historicamente, o Evangelho foi pregado e acolhido por primeiro.
Os cristãos e as organizações da Igreja, de maneira geral (paróquias, escolas católicas, conventos, igrejas de peregrinação, carmelos, obras sociais) só conseguem manter-se vivas mediante a solidariedade internacional da Igreja. Por isso, é significativo que esta Coleta “para os Lugares Santos” seja feita justamente na Sexta-Feira Santa. Conforme o Diretório Litúrgico da CNBB (cf Anotações para a Sexta-Feira Santa, p. 83-84), esta coleta é prescrita para toda a Igreja, no mundo inteiro.
Dom Odilo Scherer
Cardeal, Arcebispo metropolitano de São Paulo
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