Um país se constrói não primeiramente com a riqueza de um gordo PIB ou com uma possante economia de mercado. Nos últimos anos, contudo, alimentamos essa ilusão: nossos líderes, desde o Plano Real, cuidaram de escalonar nossa dívida externa, abrir nosso mercado, melhorar as contas públicas, enxugar o déficit da previdência – mesmo utilizando o expediente imoral, tentado pelo Governo Fernando Henrique Cardoso e realizado com devoção pelo Governo Lula: a taxação dos inativos. Pois bem, cuidou-se de tudo isso. Esqueceu-se, porém, que a primeira riqueza de um país, seu primeiro alicerce, são os valores sobre os quais a sociedade se constrói. São esses valores que permitem uma sã convivência social e um mínimo de respeito de todos pelo bem comum. Esses valores geram cultura, geram solidariedade de modo de ver a vida e permitem a consciência de um destino comum, gera uma certa cumplicidade positiva e construtiva entre os membros do mesmo tecido social.
Ora, precisamente dos valores nossa sociedade anda esquecida! Exemplos, além da costumeira violência, da crise da família e da educação? Ei-los: esses dois fatos que nos estarreceram: em âmbito estadual, a Operação Guabiru, que revelou uma verdadeira quadrilha, enriquecendo não somente com o dinheiro público, mas, pior ainda, com o dinheiro público destinado à merenda escolar! É repugnante! Se roubar o dinheiro do povo é imoral, que pensar de quem brinca com a saúde e a educação, áreas nas quais os mais pobres é que são beneficiários? Em âmbito federal, o escândalo dos Correios & cia e, pior ainda – se é que pode haver corrupção melhor e pior! – o do mensalão! Nesta crise federal tem-se o agravante que cai por terra a máscara que o Partido dos Trabalhadores usava, fazendo-se passar por reserva exclusiva da ética e da honestidade política brasileira. Nesse engodo boa parte da sociedade brasileira escorregou, inclusive setores da Igreja, mais festivos que críticos, motivados por uma ideologia saltitante, mais ingênua que realista...
No entanto, a crise, no âmago de todas as crises, é a crise de valores. O Governo Lula tem apoiado várias imoralidades no campo da bioética: aprovou o assassinato de embriões humanos para fins de pesquisa “científica”, está facilitando a prática do aborto nos hospitais públicos e tem como projeto de médio prazo a aprovação da união civil dos homossexuais, que será, sem dúvida alguma, o golpe de misericórdia no conceito humano, decente e cristão de família. E pensar que setores da Igreja apoiaram esse Governo e ajudaram a dar à luz o próprio PT!
Mas, por que essa tal crise de valores? Detenhamo-nos somente na situação do Brasil. A crise decorre do fato da negação da nossa matriz cultural. Nascemos uma sociedade cristã católica. Foi essa a matriz que nos gerou. Nossa sociedade foi plasmada e construída – para o bem e para o mal – nos valores fundamentais engendrados pelo Evangelho. Agora, com a ajuda maléfica dos meios de comunicação, trabalha-se na destruição desses valores. Tudo é permitido; o importante é que cada um seja feliz: cada um faz a sua verdade, religião é assunto estritamente privado – eis os novos valores! O resultado é o que vemos.
A corrupção no nosso Estado não se resume aos gabirus, a corrupção no Governo Lula certamente é mais ampla do que vai ser revelado pelas CPIs e os deputados das CPIs não são mais limpos e puros que os acusados. Mas, pensemos bem: não somos todos nós coniventes com tudo isso? Não somos nós os sujeitos ativos ou omissos na construção dessa sociedade? Não somos todos nós marcados pelas mesmas tendências pérfidas que infestam o coração de nossos parlamentares, fazendo de quase todos um bando de ratos?
O remédio para tudo isso – para a corrupção estadual e nacional – é a renovação de nossa sociedade. E o único remédio para a renovação do tecido social é a volta aos valores que fundamentam nossa cultura, valores enraizados no Evangelho. Tais valores precisam ser novamente proclamados sem medo e defendidos com destemor, precisam ser re-ensinados nas famílias e nas escolas (mas, as escolas públicas jogaram fora as aulas de religião; trocaram-nas por uma vaga, insossa e etérea formação de cultura geral, na qual as religiões parecem mitos inóquos!); tais valores precisam ser veiculados nos meios de comunicação, que se ocupam quase sempre em propagar relativismo, desvirtuamento sexual e dissolução da família e, para variar, violência. É necessário que os cristãos e os brasileiros de boa vontade não tenham medo de gritar alto quais são os valores da cultura brasileira. Sem esquecer, no entanto, que não adianta nada a gritaria sem o esforço pessoal da conversão do coração, que nos transforma e nos renova... Porque, ao fim das contas, de gabirus e beneficiários do mensalão petista todos nós temos um pouco.
Eis, portanto, a Crise do Brasil: de valores. E quão baixo ele tem caído!
Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.
Disponível em: http://www.padrehenrique.com/editoriais_semeador.htm#
Nenhum comentário:
Postar um comentário