O povo alagoano vive mais uma vez e iminência de uma grave crise sócio-econômica. Decididamente, não são nada boas as perspectivas! Mas, o que chama atenção, revolta e nos tenta ao desespero é a constatação pura e simples que nossos governantes não tomam jeito mesmo: não ligam nem um pouco para o povo, não se sensibilizam pela situação pré-calamitosa na qual o Estado se encontra! Enquanto o Estado e sua máquina emperram, nossos políticos brincam de gato e rato, cada um preocupado em salvar e defender seus interesses – diga-se claramente – espúrios!
Tomemos como exemplo, entre outros, nossa incorrigível e cada vez mais desmoralizada Assembléia Legislativa, que tanto mal faz a Alagoas. Vemos nossos deputados sem nenhum compromisso com o povo, com a melhoria da situação da população. Desde o início do atual Governo está em marcha uma luta de vida ou morte pela maioria no Legislativo. Isto é lícito e desejável numa democracia, já que esta é confronto de idéias e propostas para bem gerir a coisa pública em vista do bem comum. O problema é que as motivações para apoiar ou fazer oposição ao Governo não têm nada a ver com idéias, com programas, com o compromisso com o bem do povo! O que condiciona os deputados nossos é unicamente o toma-lá-dá-cá! Sejamos francos: o único compromisso de nossos parlamentares é com o bolso, com o poder, na mesma práxis política daquele famoso governador de há dois mil anos, chamado Pôncio Pilatos. Também ele tinha o dever de exercer o poder com um mínimo de justiça e equidade. Ao defrontar-se com aquele prisioneiro, um tal Jesus de Nazaré, Pilatos devia pronunciar uma sentença de vida ou de morte. Intimamente estava convencido que os judeus o haviam entregue por inveja e, por isso, estava decidido a soltar o prisioneiro Jesus. Mas, os escribas e fariseus eram espertos; conheciam Pilatos: “Se o soltas, não és amigo de César!” (Jo 19,12) Ah! Ser amigo de César é ter o poder, é estar de bem com o Imperador, é estar por cima, é garantir o cargo e o dinheiro dele decorrente! E era somente isto que interessava a Pilatos: de modo nenhum, a preço nenhum ele poderia perder o prestígio junto a César: perder o poder nunca! Então, em nome do poder, que se dane esse tal Jesus, que morra! Como já dizia um ilustre ministro nosso, dos tempos da ditadura militar: “Às favas com a consciência!”O mesmo fazem nossos políticos! Eles só têm um compromisso: com eles mesmos, com o poder que lhes dá prestígio e dinheiro, que lhes aumenta o cordão de bajuladores! O povo? Quem liga para ele: que se dane! E o julgamento das urnas? Não é problema: no programa eleitoral gratuito (gratuito em todos os sentidos!) eles se travestem de bonzinhos e condoídos hipocritamente com a pobreza dos pobres e a miséria dos miseráveis; depois, eles têm ainda seus currais eleitorais garantidos por tantos prefeitos igualmente sem consciência e vendidos... e se faltarem alguns votinhos, não há problema: eles podem ser comprados de última hora no mercado negro da corrupção eleitoral! Que tristeza! Como as palavras de Jesus eram verdadeiras: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam!”(Mc 10,42).
E o povo é obrigado a assistir a um bate-boca sem fim pelos meios de comunicação; bate-boca que é pura e simples cortina de fumaça para enganar os tolos, pois o que está em jogo é o poder, somente o poder, nada mais que o poder! E, mais uma vez, o povo se explode, fica relegado à margem da sua própria história; mais uma vez frustrado na sua eterna esperança de ver alguma coisa mudar; mais uma vez indignado pela briga de gato e rato e pelos tantos ratos de nossa política!
Quem são os culpados por tudo isto? Nós, o povo! Nós que os elegemos; nós que vendemos nosso voto e nossa consciência! Nós, que não temos coragem de tomar nas mãos a nossa história, de nos organizar e dar um basta definitivo nesta situação; nós, passivos, medrosos e omissos!Culpados? Também nós, como cristãos, que não temos nada a dizer, quando Cristo teria tanto: chamaria esses “ilustres e respeitáveis senhores” de raça de víboras, hipócritas e sepulcros caiados... Mas, que pena: os cristãos de Alagoas perderam o jeito de ver e falar como Jesus!
Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.
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