quarta-feira, 22 de abril de 2009

HIPOCRISIA.


Alguém prestou atenção ao comunicado da ABERT? Talvez não. A ABERT é a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão. Seu comunicado é um protesto indignado e alarmista contra a censura.


Segundo esta instituição, o Governo está preparando um pacotaço para censurar a livre expressão de opinião a que tem direito o povo brasileiro, direito garantido pela Constituição Federal. Mas por trás de tudo, está mesmo é a raiva porque o Governo deseja acabar com os comerciais de cigarros e bebidas alcoólicas no rádio e na televisão. Então, para enganar os incautos, a ABERT vem com uma conversa fiada de defesa da democracia e do direito de escolha. O comunicado diz mais ou menos assim: “Somos contra quem vende cigarros ou bebidas alcoólicas a menores de dezoito anos. Mas não aceitamos que seja tirado do povo o direito de decidir e de escolher...” Para a ABERT censurar comerciais de cigarros e bebidas é um atentado à democracia, é porta aberta para a negra ditadura... como a de 1964...


Tudo isso é falácia, enganação hipócrita! Em muitíssimos países do chamado primeiro mundo são proibidos os comerciais de cigarros e bebidas... e esses países são plenamente democráticos!


O raciocínio da ABERT é interessante! Como ela pode ser contra a venda de bebidas alcoólicas e cigarros a menores e ao mesmo tempo promover o vício desses mesmos menores pelos comerciais? Como pode querer proteger os menores se deseja viciar as mães e pais dos menores? Além do mais, fazer propaganda do vício destrutivo à saúde é explorar a fraqueza das pessoas, é empurrá-las para uma armadilha. Pensemos um pouco: seria moral, seria aceitável fazer propaganda de maconha ou outras drogas? Seria moral fazer propaganda da violência (apesar dos meios de comunicação o fazerem)? Seria moral fazer propaganda da corrupção e depois dizer: “cada um tem o direito de escolher”? Claro que não! O direito de livre expressão que a Constituição garante e deve garantir sempre não pode ser em detrimento do bem comum.


Na verdade o que está por trás das bebidas alcoólicas e dos cigarros são poderosos grupos econômicos que crescem às custas da dependência de tantos e da destruição de tantos e tantos lares. Quantas famílias destruídas pelo alcoolismo... daqueles que, em geral, começam bebendo socialmente... Pense-se, além do mais, na fortuna que o Governo gasta todos os anos com os doentes por causa do álcool e do cigarro... dinheiro do povo, do contribuinte. Não é a toa que nos Estados Unidos a justiça tem obrigado os fabricantes de cigarros a pagar indenizações milionárias...


A ABERT é hipócrita e espertalhona! Ela quer fazer passar por defesa da democracia o que é simplesmente defesa do bolso dos empresários das emissoras de rádio e televisão, que ganham um bom dinheiro com o comercial de drogas como a bebida e o fumo!


Já tivemos oportunidade de expor aqui a necessidade de uma comissão representativa da sociedade que estabeleça critérios e supervisione a qualidade do que é veiculado nos meios de comunicação. A questão não é somente cigarro e álcool! Que pensar das novelas da Globo, especialista em cenas obscenas e em destruir as famílias? Que dizer dos programas de auditório do SBT, bem como de uma novelinha que faz, artificialmente, com que crianças queiram imitar adultos, namorando e assumindo comportamentos completamente induzidos e, portanto, nocivos para sua idade? Como avaliar a Record – evangélica pelo dinheiro do Sr. Edir Macedo e anti-evangélica pelo que apresenta -, com programas como o do Raul Gil, que explora menores com a cumplicidade dos pais e a omissão das autoridades?


Muitos, com uma indignação falsa e um pudor hipócrita, vão chamar este modo de pensar de reacionário e obscurantista, vão dizer que se está querendo voltar à “Idade Média” e, deste modo, abre-se as portas para a censura. Conversa fiada, pra boi dormir! A liberdade de expressão é um valor. Nossa sociedade hoje é pluralista e amadurece cada vez mais no caminho de uma real democracia, que deve ser política, econômica, social, cultural, racial e religiosa. Não há perigo de censura, desde que o controle seja feito pelos vários segmentos da sociedade civil organizada. Outra coisa: a liberdade de expressão não é um valor absoluto; ela existe para a construção da pessoa, para a edificação do bem comum e para o amadurecimento da sociedade. Quando tal liberdade é usada para destruir, para prejudicar, para explorar e enganar, ela deve ser questionada, de modo aberto, franco, democrático e corajoso! Sabemos que os meios de comunicação têm o poder de influenciar de tal modo as pessoas, de intoxicá-las de tal modo com certas idéias e modas, que podem lhes tirar realmente a liberdade, condicionando-as de modo massacrante.


O tema é complexo, reconhecemos, mas não se pode ficar quieto nem calado diante de um problema tão sério quanto este; sobretudo num país como o Brasil, no qual a televisão tem um poder tão grande de formar opinião. Que raça de formadores de opinião temos em nosso País? – eis uma questão que não é menor!


Abaixo a hipocrisia da ABERT, abaixo aqueles que por baixo da capa de liberdade querem mesmo é explorar e ganhar ainda mais dinheiro, às custas da ruína dos outros e da destruição dos valores que forjaram nossa cultura e nossa identidade de brasileiros!



Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.


Disponível em:
http://www.padrehenrique.com/editoriais_semeador.htm#

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