sexta-feira, 17 de abril de 2009

PRÁTICAS CAPENGAS NUMA DEMOCRACIA CAPENGA.


Foi um enorme custo conseguir enterrar o regime militar de 1964 e reiniciar a prática democrática no Brasil. A Igreja participou ativamente desse processo por acreditar que, com todas as falhas e misérias, o regime democrático ainda é o que melhor possibilita o crescimento global das pessoas. Não que a democracia seja um paraíso e não seja usada, muitas vezes, como pretexto para tudo quanto é insensatez e desumanização. Basta recordar as palavras do Ministro do Lula, o Sr. Gilberto Gil, defendendo, em nome da democracia, o desrespeito ao terço de Nossa Senhora. São riscos que valem a pena correr por uma sociedade democrática.


Mas, quando se dá uma democracia? Seria simplesmente quando os cidadãos têm direito de eleger seus governantes? Certamente, não. Uma sociedade é democrática quando as pessoas têm reais condições de participar das decisões, dos rumos da sociedade em que vivem, quando são respeitadas na sua integridade física e em seus valores, quando a riqueza da sociedade (riqueza cultural, material, científica, econômica) beneficia, em medida aceitável, a todos os membros da coletividade.

Infelizmente, a nossa democracia é capenga. Capenga no superlativo: capenguíssima! Não há real participação na vida do País por parte de uma enorme parcela da população. Há marginalização econômica, política, social, cultural, jurídica...


Certo que, assim, vem-nos a tentação de perguntar: mas, pode realmente ser feita alguma coisa para reverter tal situação? Pouca e a passos lentos tem-se feito. Mas, há tantas outras por fazer, tantas práticas maléficas que deveriam ser evitadas. Uma delas, praga no nosso Estado, é a compra de votos. Na lei, isso tem um nome pomposo: “captação de sufrágio”; na prática é a mesma pouca-vergonha de sempre: compra-se votos com dinheiro ou algum benefício torto e ilícito. É uma prática generalizada, à direita e à esquerda – antes se pensava que era só a direita que comprava votos. Agora sabemos que a esquerda compra e arma esquemas gigantescos com o dinheiro público, como no atual Governo federal.


Na última eleição para prefeito e vereadores, comprou-se votos descaradamente. Na véspera da eleição o voto para a vereança custava por volta de R$ 100,00. A maioria dos nossos atuais vereadores comprou voto. Todo mundo sabe disso. Ninguém fez nada. Este ano houve eleição para os conselhos tutelares. A eleição foi quase toda feita na compra de votos. Ninguém fez nada. A maioria dos conselheiros e de voto comprado. São enormes as filas nos cartórios eleitorais de pessoas à procura do título para as próximas eleições. A grande maioria não está ali por patriotismo. É porque com o título poderão ganhar algum benefício vendendo voto. O voto para deputado nas próximas eleições já está estimado em cerca de R$ 100,00. Por quanto estará às vésperas do pleito? Pois bem! O que fará o TRE? O que farão a Igreja e as demais denominações cristãs? O que fará a OAB? O que fará essa sociedade, tão acomodada com o mal, tão habituada à bandalheira e à malandragem? O que faremos nós? O que fará você?


Processo corrupto elegendo políticos corruptos – como os quarenta apontados pelo Procurador Geral da República, envolvidos na prática do mensalão deste Governo do Presidente Lula... E ele jura que o mensalão nunca existiu! Políticos corruptos que gerarão mais corrupção, sobretudo motivados pela impunidade geral que se instaurou em Brasília. Às vezes, a tentação é descrer na democracia. Foi um processo assim que ajudou a levar à ditadura de 1964. Vai-se criando a cultura da propina: tudo é com uma comprazinha de consciência, de um benefício; tudo é com um favorzinho extorquido. Onde vamos parar desse modo? Os cristãos não podem se conformar nunca com isso. Temos de protestar, de reclamar, de exigir retidão e honestidade. É um modo eficiente de construir um mundo mais de acordo com o sonho de Deus. Do contrário, nosso País continuará firme rumo ao buraco moral; e a culpa será nossa.



Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.


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