Mais uma vez a Assembléia Legislativa de Alagoas é motivo de comentários da imprensa e da indignação da sociedade. Desta feita trata-se da pendenga a respeito do enxoval dos Deputados.
É sabido por todos os alagoanos que nossos legisladores ganham, entre salários e verbas extras, uma verdadeira fortuna. Isto num Estado que apresenta um dos mais altos índices de desemprego e subemprego do País! A maioria dos alagoanos deve fazer a mágica de passar o mês com um salário mínimo... e nossos representantes ganham uma fortuna, com o pretexto de servirem ao povo!
Mas, isto não basta: num verdadeiro acinte à pobreza dos pobres, à miséria dos miseráveis, à desassistência dos desassistidos, nossos Deputados se presenteiam com uma verba de R$ 6.000,00 para a aquisição de um enxoval - não de noiva, mas de parlamentar! Ante a indignação da sociedade, alguns apressaram-se em justificar esta situação vergonhosa com a desculpa da legalidade: está na lei, é legal! Mas, aqui, não se trata primeiramente de legalidade. Esta não pode ser o critério último de uma sociedade que se quer verdadeiramente humana e, ainda que de longe, um pouco cristã! Antes da legalidade é necessário inquirir e questionar sobre a moralidade de tantos e tantos atos de nossa Assembléia Legislativa e dos Poderes públicos em geral! Fundamento da moralidade são uma consciência bem formada e um coração aberto para os valores verdadeiramente humanos, como a solidariedade, a justiça, a honestidade... valores tão humanos e tão cristãos!
Os mandatos para as funções públicas no nosso Estado geralmente têm sido exercidos não como um serviço à comunidade, na busca do bem comum, mas como um servir-se do poder para tirar vantagens pessoais, em detrimento exatamente do bem comum que a atividade política deveria salvaguardar. O povo alagoano já mostrou que não mais suporta tal situação, que deseja dar um basta em tal realidade!
Como cristãos, não podemos compactuar com esta mentalidade e tão vil situação! O Evangelho da verdade, da graça e da vida, impede-nos de ficar tranqüilos e indiferentes ante uma distorção tão brutal. A Igreja, sem denegrir ninguém, sem ódio ou rancor, sem se julgar melhor que ninguém, mas com a serena firmeza de Jesus, tem o dever de proclamar que é imoral e ilícita uma tal situação! Verbas de gabinete vergonhosas, número exorbitante de assessores, verbas para enxoval... Toda esta patifaria somente desonra a atividade política, desmoraliza mais ainda o Legislativo e joga no total desânimo a sociedade alagoana.
Na paz que o Cristo nos traz, devemos rezar para que os cristãos de Alagoas - e a sociedade como um todo - nunca se conformem com a injustiça e a imoralidade, mas tenham sempre a sagrada capacidade de indignar-se contra semelhante estado de coisas, como Cristo, que se indignou com as distorções de sua época. E esta indignação, que se transforme em juízo nas próximas eleições!
Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.
Disponível em: http://www.padrehenrique.com/editoriais_semeador.htm#
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