quarta-feira, 22 de abril de 2009

DO BREJAL AO PRIMEIRO MUNDO.


No final de abril os países-membros do FMI reuniram-se nos Estados Unidos. Chegaram a uma conclusão óbvia: os países ricos são protecionistas, prejudicando a exportação dos países em desenvolvimento (ou emergentes, como se diz na economia globalizada). Somente para ter-se uma idéia: eles gastam quase vinte vezes mais protegendo seus produtos contra os países em desenvolvimento que os restos, as esmolas, as migalhas que dão – ou melhor, que jogam – para o Terceiro Mundo. Basta ver nossos irmãozinhos estadunidenses: prejudicam nosso aço, nosso suco de laranja nossos produtos têxteis... e vivem querendo fazer conosco aquele famoso tratado de livre comércio – a tal de ALCA – para nos engolir de vez... Que ninguém se iluda: o Primeiro Mundo, rico e saciado como aquele rico egoísta do Evangelho, não está interessado na miséria do Terceiro Mundo. A globalização, da qual não temos como fugir é, no entanto, uma via da mão única (nosso Presidente usa a expressão elegante e sofisticada para dizer a mesma coisa: trata-se de uma “relação assimétrica”! Expressão bonita para a mesma triste realidade). Governos de esquerda ou de direita no Primeiro mundo sabem muito bem que a riqueza deles dá-se às custas de nossa pobreza... e não estão dispostos a mudar isso!


Também as regiões mais ricas do nosso Brasil, estão distantes daquelas mais pobres, como o Nordeste e o Norte. Em São Paulo não são poucos os que acham que os nordestinos são atrasados porque são uma espécie de sub-raça, sem jeito nem solução, bando de corruptos inveterados, preguiçosos com os quais não se deve perder muito tempo. O atraso do Nordeste é culpa somente dos nordestinos! Os políticos do Nordeste seriam mais sujos que os de São Paulo e Rio de Janeiro... Nós, esses “paraíbas” incuráveis. Por isso a maior parte dos recursos e investimentos vão para as regiões mais ricas. Ficamos nós com as migalhas.


Em Maceió, em Alagoas, que diferença entre os casebres da beira da Lagoa Mundaú e as sofisticadas residências do Aldebaran, entre a iluminada orla marítima da Pajuçara e da Ponta Verde e a Leste-Oeste, escura na orla da Lagoa! Nossa economia alagoana é ainda extremamente injusta, tendendo a concentrar renda e a manter a enorme maioria da população na pobreza, na ignorância e na marginalizada. Nessa situação de desigualdade alagoana não aparece muito claro que os poucos riquíssimos estejam preocupados com os muitos paupérrimos...


Então! O egoísmo, o fechamento de coração, a indiferença e a falta de solidariedade pela dor e marginalidade dos outros são, infelizmente, uma realidade globalizada, produto comum nas relações entre nações ricas e pobres, entre regiões desenvolvidas e em atraso, entre classes altas e classes baixas... Existe uma estrutura de pecado, de profundo desequilíbrio no íntimo do coração humano, uma busca de bem-estar, de sucesso e segurança que o impede de olhar realmente para o outro como irmão, como alguém que tem o direito e a necessidade de ser feliz.


Nós, cristãos, sentimos também esta estrutura maligna em nós. Não devemos escondê-la nem fingir que não somos por ela tentados! Para vencê-la, para nos abrir para os irmãos, para mudar nossos critérios, é necessário, absolutamente, que nos confrontemos com o Evangelho, com suas palavras loucas, insensatas e inquietantes: “Bem-aventurados os pobres, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os mansos, os misericordiosos, os puros de coração, os pacíficos, os que são perseguidos por causa da justiça...” Sem a graça de uma conversão sincera a Cristo, as boas intenções e as palavras bonitas dos cristãos, das classes altas, das regiões ricas e do Primeiro Mundo histórica, ecológica e economicamente hipócrita não servirão para muita coisa.


Que o Cristo ressuscitado nos liberte, que seu Evangelho nos incomode e sua paz renove o nosso coração!



Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.


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