quarta-feira, 22 de abril de 2009

UM JOGUINHO DE NADA.


Recentemente aconteceu em São Paulo um campeonato de videogame. O tema: tiroteio entre traficantes e policiais nos morros cariocas. O torneio era aberto a maiores de quinze anos. O organizador afirmou que o jogo é “legal”: ajuda a “enturmar”, a fazer amigos, etc. Um menino de quinze anos afirmou: “É emocionante matar!” e um rapaz de seus vinte de idade completou: “Depois que você estoura a cabeça do primeiro, não quer parar mais!”

Meu Deus! Que sociedade estamos criando? Que valores estamos exaltando? Sobre que alicerces estamos formando os seres humanos? Numa sociedade em que matar é um joguinho para entreter os jovens, quanto vale a vida? quanto é importante a dignidade humana?

Não é a toa que o Papa João Paulo tem chamado tanto atenção para uma cultura da vida, para uma ética que respeite a existência humana. Pensemos um pouco: entramos no Terceiro Milênio num mundo marcado por fortíssimos sinais de morte, e tanto mais graves quanto menos são percebidos e mais são tidos como inofensivos. Sinais mortais, alarmantes, deprimentes, não faltam:


(1) a globalização selvagem, que tem aumentado internacionalmente a distância entre países ricos e pobres e tem espremido os países em desenvolvimento; no interior das sociedades nacionais tem contribuído para fazer crescer a distância entre ricos e pobres;

(2) a destruição de valores morais e instituições indispensáveis ao homem, como a família, a religião, a fidelidade, a honestidade, a responsabilidade e a solidariedade;

(3) o aborto visto como algo normal e deixado ao arbítrio da mulher, como se esta fosse dona do feto que leva e a vida humana não fosse sagrada;
(4) o sexo vivido de modo banal e promíscuo, desvinculado do diálogo de amor e da abertura para a vida;

(5) o consumo em larga escala de entorpecentes, tanto mais propício quanto menos tem-se presente o sentido da existência e a finalidade última da vida;

(6) a religiosidade banalizada num misticismo vulgar, descomprometido e utilitarista, sem um efetivo compromisso com Deus e com os outros;

(7) a destruição da natureza, tiranizada pelo ser humano, sobretudo pelos países ricos, tendo à frente os Estados Unidos;

(8) a irresponsável alienação diante da morte, evitando-se pensar nela e, assim, refletir sobre o sentido da vida: quem não leva a morte a sério, não pode viver seriamente!


Eis alguns sinais de morte do nosso mundo! E pensar que Deus nos criou para a vida, que enviou seu Filho amado para que tenhamos a vida, e vida em abundância! Nossos sexólogos, psicológicos, psicanalistas, economistas, filósofos... que mundo estão inspirando, criando, plasmando? Dá calafrios pensar!

A Igreja – e cada um de nós, como discípulos de Cristo – é chamada a anunciar e a testemunhar um Evangelho da vida, por mais que isso pareça antipático aos bem pensantes de plantão! Vida para o ser humano na sua vida intra-uterina, vida para as crianças com direito a escola e saúde, mas também a uma família bem estruturada, com pai, mãe e irmãos vivendo em harmonia, vida para nossos jovens, que têm direito a valores e ideais, que têm direito a não ser bombardeados por drogas, consumismo, violência, promiscuidade e indução ao sexo irreponsável e desligado de um contexto de amor e geração da vida, vida para nossos adultos que precisam de trabalho e de condições materiais e espirituais de existência, vida para nossos anciãos que precisam reencontrar a firme esperança no Cristo ressuscitado, vencedor da morte, vida para a natureza, vida para os pobres, vida para os ricos de contas bancárias abarrotadas e corações vazios e ocos... Vida, sempre a vida! Eis o compromisso que o Papa João Paulo tem indicado para a Igreja do Milênio novo: a proclamação teimosa e cheia de força e esperança do Evangelho da Vida. Vida – entendamo-nos bem - que é algo, mas Alguém... Alguém que nos disse e continua a nos dizer, desafiador: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” – Fora dele, o homem constrói – e tem construído uma vida de mentirinha e de morte, como o joguinho de videogame dos jovens de São Paulo.



Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.

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