A Campanha da Fraternidade deste ano toca numa questão nevrálgica da sociedade, mostrando sua gravidade e a urgência de ser enfrentada com eficácia. A violência coloca em xeque a civilização atual. A recuperação da segurança pública é vista como indispensável para a sociedade se livrar do sentimento de frustração e de fracasso de suas instituições.
O crescimento da violência, na verdade, faz aumentar o clima de perplexidade, aumentando a desconfiança, e levando as pessoas a descrerem da possibilidade de uma sociedade baseada na justiça, na solidariedade e na paz.
Este sentimento pessimista em relação à possibilidade de convivência humana que seja marcada e conduzida por valores éticos, já foi expresso pelo ditado latino que mais enfatiza o pessimismo a respeito da humanidade: “homo homini lúpus”, “o homem é lobo do próprio homem.” Isto é, o homem tem dentro de si mesmo a tendência irrefreável à maldade para com seu semelhante.
Se assim for, está decretada a guerra permanente no seio da própria sociedade, com suas manifestações diversas de violência, que se tornariam a comprovação da maldade intrínseca da pessoa humana.
Esta visão da realidade é feita, sim, em decorrer de fatos reiterados. Mas está desprovida do horizonte maior de esperança nos destinos da humanidade. Esta esperança é comprovada pela lenta caminhada civilizatória, que chegou à consolidação de sociedades baseadas no respeito a toda pessoa humana e construídas sobre os pilares dos direitos humanos.
Esta visão fica reforçada pelas motivações religiosas, que enfatizam a ação de Deus em favor da humanidade, chamada a viver em comunhão fraterna, de paz e de justiça, com motivações positivas capazes de superar a violência pela misericórdia e pelo amor ao próximo.
A superação da violência, e a recuperação da segurança pública, se tornam, assim, o desafio central para consolidarmos a esperança numa sociedade em que possamos viver em clima de paz, que nos permita o cultivo de valores humanos que dão sentido ao nosso viver.
Assim, a segurança pública se torna parâmetro da esperança nos destinos da humanidade.
Outro parâmetro muito sensível em nosso tempo nos é oferecido pela consciência ecológica, que nos desperta para a urgente tarefa de equilibrarmos nossa relação com a natureza, com quem partilhamos de tantas maneiras as condições de nossa existência humana.
O respeito pela natureza, e o respeito pela dignidade de toda pessoa humana, se constituem nas duas balizas éticas que possuem os apelos mais sensíveis para o ser humano de hoje.
O empenho em verificar o quanto somos capazes de recuperar a segurança pública no ambiente em que vivemos, como nos propõe a Campanha da Fraternidade deste ano, se transforma em caminho para fortalecer a crença nas possibilidades do ser humano harmonizar sua vida em sintonia com a natureza e realizar sua vocação de comunhão fraterna, em sintonia com seu destino transcendental.
Dom Luiz Demétrio Valentini
CNBB
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