sexta-feira, 17 de abril de 2009

A IMBECILIDADE DE BRIGAR POR CAUSA DE UM TIME.


Sou professor há cinco anos, e cada vez mais me espanto pelo fanatismo de grande parte dos meus alunos pelos times do futebol, em especial, os do futebol alagoano. Torcer por um time de futebol não é um mal e chega até ser saudável. As torcidas organizadas quando foram criadas tiveram um objetivo nobre: juntar os torcedores de um determinado time para incentivá-lo e oferecer aos estádios um colorido diferente. O problema é quando se torna um fanatismo impedindo que aceitemos o outro que tem preferência contrária a nossa e, por não torcer pelo nosso time do coração, automaticamente ele é um inimigo mortal, mesmo quando nem sequer eu conheço, nem tão pouco fez nada de mal contra mim. Se torcer por outro time, merece apanhar e até, em muitos casos, morrer. Essa é a lei da selva das torcidas organizadas.

Neste tempo que leciono não me lembro quando um aluno chegou para mim e perguntou qual o time que eu torço. Mas lembro das inúmeras vezes que me perguntaram, e perguntam, se eu sou Mancha ou Comando, ou se eu sou Manchete ou Comédia. CSA e CRB parecem palavras abolidas no vocabulário das nossas crianças, adolescentes, jovens e, pasme muitos adultos.

No último domingo, assistir pela TV, o clássico Fla X Flu e fiquei admirado com as bandeiras dos torcedores dos times. Todas elas, sem exceção, tinham como símbolos personagens dos violentos filmes de terror como Jason, Freddy Krueger. Esses são os referenciais das torcidas organizadas. E as torcidas organizadas são referenciais de muitos jovens. O terror verdadeiro promovido pelas torcidas chegou a um ponto, que recentemente, um grande amigo meu e líder da juventude da Paróquia do Divino Espírito Santo, e louco por futebol, chegou a dizer que nunca mais pisaria os pés num estádio quando fosse um clássico CSA X CRB.
Que absurdo! O estádio de futebol, lugar que até pouco tempo atrás era para as famílias, para os pais se confraternizarem torcendo pelo seu time favorito, virou praça de guerra. E esse é o clima que as torcidas organizadas promovem. Canso de ouvir meus alunos cantando hinos de guerra contra a torcida organizada adversária. De fato é uma guerra, e como tal, tem suas vítimas fatais. Um ex-aluno tem um álbum no seu perfil no orkut intitulado: “Homenagem aos chegados que estão no céu”. Fico espantado ao ver jovens, e até mesmo crianças, que tinham uma lindo futuro pela frente, perder suas vidas por causa de um time. O mais velho aparentava ter uns 18 anos. Em comum, todos com a camisa da torcida Mancha Azul ou do CSA. Voltamos ao tempo dos bárbaros.

A intolerância, por causa de um time de futebol, é algo rotineiro. O absurdo que, enquanto uns matam e morrem por causa de um time de futebol, os jogadores deste mesmo time, ganhando ou perdendo uma partida, no fim do mês tem o seu salário no bolso. Alguns chegam ganhar milhões, num país onde a maioria da população não ganha sequer o mínimo para sua sobrevivência.

Deus é perfeito, logo Ele não repete. As pessoas, imagem e semelhança do Criador, são diferentes. Temos gostos diferentes. Ninguém é obrigado a torcer pelo mesmo time que o meu. A maioria dos meus amigos torcem por times diferentes que o meu. Meus melhores amigos são vascaínos e regateanos, enquanto eu sou flamenguista e azulino.

Até quando as pessoas vão desrespeitar a opção do seu próximo? Quero ter o direito de vestir à camisa do meu time para ir trabalhar. Quero, no futuro, levar meus filhos ao Estádio Rei Pelé, como meu pai me levou inúmeras vezes para assistir o Clássico das Multidões. Quero ter o meu direito por ter gostos diferentes do outro seja respeitado da mesma forma que respeito quem tem gostos diferentes do meu.
Como cristãos, não podemos ficar calados e inertes diante dessa barbárie. Está na hora de damos um basta nisso tudo. Evidente, que não vamos acabar com a violência promovida pelas torcidas organizadas. Mas podemos conscientizar nossos irmãos que a sua liberdade termina quando começa a do outro. Está na hora de mostrarmos aos nossos irmãos que, antes de torcer por um time local ou nacional, somos titulares absolutos do time de Jesus Cristo. Ele jamais nos deixará no banco.


Rick Pinheiro
Teólogo, professor de Ensino Religioso, Bacharel em Direito e coordenador da equipe arquidiocesana da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Maceió.



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