sexta-feira, 17 de abril de 2009

CARTA DE DOM ALBERTO TAVEIRA SOBRE POLÍTICA.

Palmas, 1º de setembro de 2008.



A todos os fiéis da Igreja Católica, paz e bênção no Senhor!



Caríssima irmã, Caríssimo irmão,


A Arquidiocese de Palmas promoveu, nos dias 28 e 29 de agosto de 2008, o I Fórum sobre Fé e Política, com grande participação dos diversos setores da Igreja. Contamos também com a presença honrosa das pessoas que se candidatam à prefeitura de Palmas e candidatos à Câmara Municipal. Após o Fórum, haverá outras reuniões nas Paróquias e Regiões Episcopais, para que muitas pessoas participem das conversas e conheçam as orientações da Igreja. Hoje queremos conversar com o Povo de Deus sobre a Fé e a Política.



O cristão e a Política



Por que o cristão se interessa pela política? Porque faz parte de nossa fé o amor ao próximo. Amar a Deus é a raiz da árvore de nossa vida. Os frutos se mostram no amor ao próximo. Todo interesse pelo bem dos outros pode ser expressão do amor ao próximo, inclusive na política, onde está em jogo o bem de todos, especialmente dos mais pobres e sofridos. O político cristão será aquela pessoa que toma iniciativa, que busca o serviço dos outros e não os próprios interesses.Que estilo de vida pode ajudar o cristão em sua atuação na política? Como fazer com que sejamos cristãos verdadeiros em todos os campos da sociedade? Buscamos juntos os caminhos para que o evangelho fermente a atividade política, com todas as suas dimensões, como o exercício do direito e do dever do voto, a militância partidária, a propaganda eleitoral, os programas de governo, os cargos políticos e a harmonia entre os poderes. A política é um maravilhoso instrumento de amor social e, ao mesmo tempo, o espaço das divisões, dos conflitos, das lutas, e das grandes tentações. Se muitas vezes os políticos são criticados, é porque tocam bem de perto no risco da corrupção. As críticas e o confronto de idéias podem ajudar a um exame de consciência, para purificar a prática política. Se todos precisam cultivar a santidade, os políticos precisam de dose dupla.Durante as campanhas eleitorais, vêm à tona as perguntas sobre o envolvimento da Igreja e dos cristãos. Não é raro esperar que a Igreja “tome partido”, escolhendo um dos lados envolvidos no processo político. Assim, é bom que a Igreja ofereça suas orientações a respeito da participação política aos candidatos e candidatas católicos aos diversos cargos, assim como aos os eleitores. A Igreja, pela graça de Deus, é mestra em humanidade.



Orientações pastorais para a Política A Igreja não quer impor aos católicos acordos políticos ou candidatos. Todos os católicos têm à disposição, para decidir bem, sua própria consciência. Não desejamos vantagens, fatias do poder ou cargos na administração. Queremos, sim, oferecer homens e mulheres que sejam fermento na massa, ao lado de tantas pessoas de boa vontade, prontos a participarem bem das atividades políticas. Pretendemos contribuir para que os valores do Evangelho iluminem o voto e a prática política dos eleitos para as Prefeituras e Câmaras Municipais de nossa Arquidiocese. Que candidatas e candidatos aos diversos cargos conheçam a posição cristalina da Igreja Católica que busca o aperfeiçoamento da prática política. Introduzir Deus na política não significa transformar o espaço político, chame-se ele campanha eleitoral, comício, câmara, parlamento, prefeitura ou militância partidária em local de pregação de uma Igreja ou outra. Não é este o lugar para isso, pois aí se encontra o legítimo espaço da diversidade. O que somos chamados a fazer é dar testemunho concreto e prático dos valores do evangelho. Todas as palavras e os posicionamentos a respeito da ecologia, habitação, estradas, viadutos, hospitais ou outros temas importantes terão como referências os valores da verdade, da liberdade, da justiça e do amor. O que queremos?



1. Retidão pessoal e Vida Cristã


Para alcançar objetivos que, certamente muitos consideram exagerados, quem quer entender de política, como cristão, deverá alimentar a vida espiritual através da oração e contato com a Palavra de Deus. Depois de falar a Deus e sobre Deus, não é possível falar mal dos outros. Quem está em Deus muda o ambiente onde quer que chegue, passa também a ter coragem de testemunhar. Não dá para ir à Igreja na campanha e depois não ter mais tempo para freqüentá-la, assim como não dá para ser de vários grupos religiosos ao mesmo tempo. O respeito de que cada político é merecedor será conseqüência de sua coerência humana e religiosa. Saberemos também valorizar pessoas com convicções diferentes, mas fiéis à sua consciência e retas em seu modo de agir.2. “Voto não tem preço, tem conseqüências”!Para votar bem, é importante prestar atenção às pessoas que se candidatam e os programas de governo que apresentam. Estaremos atentos para verificar a história dos candidatos e o que já fizeram. Depois, se nós queremos contribuir para uma mudança, não aceitaremos, em nenhuma hipótese, vender nosso voto.



2. Princípios da Doutrina Social da Igreja




A Igreja tem uma experiência maravilhosa em seu ensinamento social. Aqui se encontram seus princípios mais importantes, que servirão como critérios, para fazermos nossas escolhas:Em primeiro lugar, a dignidade da pessoa humana, criatura e imagem de Deus, em unidade de corpo e alma, cuja vida vem a ser respeitada desde a sua concepção até seu declínio natural. As pessoas que se apresentam como candidatas valorizam e defendem a vida? Qual é sua posição a respeito do aborto ou outras práticas que desvalorizam a vida? Esta é nossa primeira bandeira! O Ensinamento social da Igreja tem outro princípio, o do bem comum. As necessidades e o proveito do que vale para todos, especialmente dos mais pobres, vale mais do que os interesses dos partidos e mais do que projetos de enriquecimento pessoal. Verifiquemos se os candidatos manifestam disposições e condições para cuidarem do bem de todos. A subsidiariedade é outro princípio da doutrina social da Igreja. É impossível promover a dignidade da pessoa sem cuidar da família, dos grupos, das associações, as realidades territoriais locais, das diversas formas de organização da sociedade, inclusive religiosas. As pessoas que se candidatam oferecem programas que possibilitam a valorização dos grupos menores e se interessam por promover a liberdade de organização da sociedade?A Solidariedade, quarto princípio da doutrina social da Igreja, significa a sensibilidade para atender todas as situações mais difíceis existentes na sociedade. Solidariedade é não deixar passar perto da gente qualquer situação humana sem nossa resposta, mas fazendo sempre o bem que estiver ao nosso alcance. Seus candidatos têm esta sensibilidade? Votar e votar bem


Nosso apelo de Igreja é que todos participem bem do processo eleitoral. Todas as pessoas que se apresentam ao julgamento popular do voto saibam que contam com o respeito e o apreço da Igreja Católica. Contem com nossas orações, especialmente com o pedido ao Espírito Santo, para que os eleitores escolham bem quem poderá servir mais e servir melhor. Pedimos aos cristãos católicos que acolham nosso convite a não se omitirem nas eleições que se aproximam. Votem com consciência! Preparem-se para votar bem, conhecendo os candidatos e suas propostas. Ajudem a fazer das próximas eleições uma festa de autêntica democracia. É mais um passo que damos para o aperfeiçoamento de nossa prática política.



Palmas, 1º de setembro de 2008.




Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Palmas






Disponível em:
http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/2008/09/20/carta-de-dom-alberto-taveira-sobre-politica/

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