sexta-feira, 17 de abril de 2009

A CPI E O RESSUSCITADO.


Tivemos show na televisão! Como disse, com propriedade, um jornalista, um pouco de Nuremberg (o dramático tribunal que julgou os assassinos nazistas) e muito de Programa do Ratinho!


Sem dúvida, a CPI deu o que pensar e deveria fazer-nos refletir sobre alguns pontos importantes:

(1) Há violência no nosso Estado de Alagoas; violência das feias; incrustada nos órgãos públicos, patrocinada por muitos de nossos governantes, que são verdadeiros pistoleiros e transformam esta maldita, nojenta, espúria e exorbitante imunidade parlamentar em uma verdadeira impunidade parlamentar! Não há dúvida – nunca houve e todos sempre souberam: muitos dos nossos líderes são padrinhos da gloriosa e impune pistolagem estadual!


(2) O povo de Alagoas sempre soube do banditismo no nosso Estado, sempre soube que havia autoridades envolvidas e nunca fez nada para mudar isso. Aliás, fez sim: elegeu e reelegeu os culpados! E ninguém fala e todos se omitem... Até a Igreja, não fala com a força e a ênfase com que deveria falar contra este estado de coisas! Isto mostra o quanto a mentalidade do alagoano é medrosa e omissa – formada por décadas de coronelismo, medo, conformismo e passividade. Somos o povo do “deixa pra lá”...


(3) Ali, naquele auditório de CPI, havia os que estavam depondo (alguns como acusados), havia os que assistiam e, finalmente, os deputados federais que tomavam os depoimentos. Quem era melhor dentre os presentes? Os deputados que fazem parte de CPI seriam mais limpos que os acusados? seriam mais honestos que nossos gloriosos deputados estaduais? não teriam, também eles, algum tipo de “esquema” em seus estados e currais eleitorais? – No entanto, faziam o papel de “bons moços”... E o auditório? “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra!” Viu-se que tanto as perguntas dos deputados quanto as respostas dos imputados eram mais ou menos demagógicas, gerais, teatrais... “para inglês ver”...


Todo este quadro e toda esta realidade deveriam fazer-nos pensar quanto os critérios humanos, quanto a justiça dos homens são precários e capengas; quanto somos passionais e, muitíssimas vezes, hipócritas e demagogos! Como corremos atrás de bodes expiatórios e salvadores da pátria! Bem que o Salmo previne: “Na minha aflição eu disse: ‘Os homens são todos mentirosos’” (Sl 115,2) – isto é, os homens são todos ilusórios, passam... não podem servir de rocha e certeza e segurança e apoio para ninguém...


A CPI veio a Alagoas no Tempo pascal... atrás, na parede do fundo do auditório onde aconteceu nosso Nuremberg-Ratinho, estava pendurado um crucifixo e a imagem do Crucificado, daquele que tomou sobre si nossos pecados, que se cobriu com nossas chagas e carregou as nossas iniquidades. Lá estava, silenciosa, pequena – eu vi pela TV! – a imagem do Injustiçado, do Homem ferido e humilhado, Homem de dores, que foi tratado como um malfeitor, se bem não tivesse cometido pecado nem se tenha achado crime em sua boca... (cf. Is 53,1ss). Parece que a imagem ali, silenciosa, dizia tudo: “É sempre assim, será sempre! Os maus vencerão! Eles estão de um lado e de outro da mesa: entre os que interrogam, entre os interrogados e entre os que assistem... Somos todos pecadores. E porque é assim, é melhor fazer como os alagoanos: deixar pra lá!”


Mas não! O Crucificado ressuscitou! Como canta a liturgia latina num estupendo hino pascal do século XII (o Salve Dies):

“O antigo Inimigo, autor do mal, insultava a nossa miséria,porque não restava nenhuma esperança...Quando o mundo já não tinha esperança de encontrar remédio,na hora em que o silêncio pairava sobre todas as coisas,Deus Pai enviou seu Filho aos desesperados!”

Contemplando Aquele que venceu a morte com sua Ressurreição, o cristão, o alagoano que professa Jesus como Senhor glorioso, deveria primeiramente relativizar a justiça humana, tão parcial e interesseira... mas deveria também – exatamente porque nosso Senhor venceu o pecado e a morte – renovar seu desejo de lutar pela verdade, pela justiça e pela paz. Deveríamos não medir esforços para buscar uma sociedade livre dessas mazelas a que estamos já acostumados, para destruir a violência, para edificar a justiça... mas sabendo que somente quando o homem se converter de verdade ao Senhor erradicaremos a maldade da terra – aquela maldade que há no nosso coração, no coração de nossos pistoleiros e no coração do mundo! Somente em Cristo, somente à sua luz, somente por ele inspirados! Como diz ainda o nosso hino:

”Livre, o Restaurador do gênero humano, ressuscita dos infernos,trazendo de volta ao céu, sobre os ombros,a ovelha que lhe pertence.O Império da morte não mais existe;alegremo-nos com uma alegria triunfante:paz sobre a terra e júbilo no céu!”


Monsenhor Henrique Soares da Costa
Bispo eleito auxiliar de Aracaju.

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