Olhamos para esses acontecimentos procurando compreender
A cada dia somos surpreendidos por notícias de mais e mais violências. Até algumas dias atrás, as primeiras páginas dos jornais de circulação nacional davam destaque a uma verdadeira "guerra" na capital e em outras cidades do Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, no noticiário internacional, além das guerras já costumeiras, aparecem investidas sérias e complicações novas no Oriente Médio.
Muitas vezes ficamos escandalizados pelo número de mortos nessas guerras do exterior e não paramos para pensar no número de mortos que ocorrem em nossas guerras domésticas. Segundo as estatísticas, é muito maior o número de mortos em nosso país. Infelizmente!
Nós que vivemos num estado da federação tido como local de grandes violências, tanto nas periferias de nossa capital como em várias regiões do interior, em especial na "terra do meio", olhamos para esses acontecimentos procurando compreender por que e como isso tudo acontece.
São muitos e diversos fatores que se complementam. Para cada lugar e situação temos explicações diversificadas. Em alguns lugares essa situação se deve ao crime organizado, em outros ao narcotráfico, em outros à questão fundiária e social, em outros ainda à situação social de pobreza e de educação em que se encontra a maioria da população. Muitas vezes são fatores que se conjugam, e semeiam entre nós a insegurança e o medo. Basta ver ao nosso redor o número de grades nas janelas e portas.
Ouvimos também os paulistas comentarem a situação de serem "presos dentro de suas casas" com limitação ao ir e vir democrático.
As autoridades se acusam mutuamente, procurando cada um responsabilizar o outro pela situação – falta de verbas, falta de controle, falta de policiamento!
Acredito que somos chamados a buscar as causas mais profundamente. É verdade que todas as causas enumeradas acima – e muitas outras não comentadas – fazem parte dessa situação que ora vivemos. Mas neste tempo da assim chamada "pós modernidade" e nesta época em que os valores da família, da vida, do respeito, do perdão, da honestidade, da fraternidade ou solidariedade estão sendo substituídos pela corrupção, vingança, libertinagem, esperteza tanto nos fatos que ocorrem como também nos "ensinamentos" de um certo tipo de mídia, o que nós queríamos que fosse o resultado?
Estamos deixando de lado valores humanos que nossa sociedade evangelizada pelos cristãos acostumou-se a viver e a colocar como parâmetro de seus relacionamentos. Estamos partindo para outras culturas e situações que nem sempre prezam pela vida humana e pelos valores impressos na natureza humana. Não se trata de tornar todos católicos ou cristãos, nem de transformar nosso mundo num convento – somos chamados a viver nesse pluralismo em que o respeito pelo próximo pauta a nossa vida!
Trata-se de redescobrir valores pelos quais possamos pautar nossas vidas e nossa sociedade! Não apenas as leis positivas que variam de acordo com os votos das pessoas, mas essa descoberta dos "primeiros princípios" e valores impressos na dignidade da pessoa humana que nos fazem viver de uma maneira nova e poderá trazer à nossa sociedade um pouco de paz.
Iremos aumentar presídios, ter maior policiamento ostensivo nas ruas, procurar combater o narcotráfico, melhorar as condições sociais das pessoas, aprimorar o nosso judiciário, e a situação poderá até mesmo melhorar, diminuindo um pouco mais a violência. Mas ainda estará faltando a paz no coração da pessoa que, amada por Deus, ame o seu irmão ou pelo menos respeite o seu semelhante. As opções que tomamos hoje têm conseqüências para o futuro, como ora sofremos pelas decisões e orientações de ontem.
Reflitamos sobre os acontecimentos e pensemos sobre quais bases estamos construindo a nossa sociedade.
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
CNBB
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