quarta-feira, 22 de abril de 2009

A MALDIÇÃO CONTRA A JUVENTUDE.


Atualmente, o Brasil consome 6,5% de todas as drogas ilícitas do mundo, estimando-se que só de cocaína são comercializadas 40 toneladas, o que vem refletir no comportamento de uma juventude que está sem amparo pelo Estado. De 2002 a 2007 o consumo de drogas no País aumentou 30%, segundo os estudos da Junta Internacional de Entorpecente, com sede em Viena na Áustria e serve para auxiliar a Secretária das Nações Unidas contra as Drogas (UNDOC). O mercado de entorpecentes movimenta na casa do bilhão de reais no Brasil, que serve de sustentação para movimentar atividades lícitas no mercado financeiro. Conforme alguns levantamentos preliminares do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Necvu/UFRJ), quase 30% do valor arrecadado com o tráfico de drogas vão para compra de armamento e munição. Por ser altamente rentável, se transformou num negócio ágil, moderno e extremamente profissionalizado. Meros traficantes de favela não são donos desse grande aparato, mas apenas a ponta do iceberg. São controlados por grandes agenciadores que estimulam os guetos urbanos para servirem como ponte para a manutenção dessas atividades. Envolvem alguns agentes de segurança do Estado e alguns políticos que estão a serviços como protetores dessa rede.


A cada ano que passa, o consumo da cocaína e do crack vem tomando proporções devastadoras na sociedade brasileira, principalmente nos grandes centros urbanos. O que temos hoje é um consumo excessivo da pedra de crack por todas as classes. O crack vem substituindo a cocaína nas mãos dos traficantes, levando um exército de pessoas cada vez mais colocar combustão na pedra nos cachimbos feitos com lata de refrigerante e cerveja. Um velho ditado popular coloca: onde há fumaça há fogo, e essa fumaça é o caminho para a morte pelo fogo cruzado entre o traficante e o consumidor. Cada dez pessoas que experimentam o crack oito se tornam dependentes. Nas cidades brasileiras de médio e grande porte, o crack já está entre as drogas mais comercializadas. O consumidor-alvo dessa droga está entre pessoas de 19 a 26 anos de idade. Vivemos uma epidemia de consumo de crack, servindo como estimulo para a violência. Podemos chamar de inseticida da juventude moderna brasileira, pois seu consumidor é rapidamente exterminado.


A rede de saúde pública não está preparada para atender ao aumento avassalador dessa droga, que vem causando estragos sociais de grande proporção. Não temos dados concretos sobre a causa morte do usuário nos hospitais. Grande parte dos que morrem como usuário de drogas tem no seu prontuário morte por problema cárdio-respiratório, pneumonia ou outras causas clínicas. Os próprios Institutos Médicos Legais de todo o país tem dificuldade de fazer anotações em seus sistemas quando a causa morte é droga. Sem uma estatística completa sobre a situação, será difícil realizar qualquer programa de prevenção que esteja enquadrado com uma política pública adequada para combater o problema. Fazer somente campanhas, podemos dizer que vem de políticas das ditaduras, pois não surtem efeito por si só.


O que ajuda amenizar a situação atual é um programa de redução de danos e uma boa formação de recursos humanos para o setor que trabalha com o problema das drogas. O grande entrave é que não temos nenhum aporte significativo de recursos públicos para esse setor. O que existe são pessoas bem intencionadas que formam as Organizações Não-Governamentais, que com muitos esforços lutam para ajudar usuários de drogas. O problema do consumo do crack não é um caso de polícia, e sim de assistência social, saúde e educação. Tratar a questão do consumo de drogas com repressão não resolverá a situação presente. Seja qual forma for: colocar polícias nas ruas, comprar viaturas, organizar batalhões de choque para batidas corriqueiras não resolverá a situação da violência fomentada pelo consumo de crack. A situação é muito mais séria do que imaginamos, e a sociedade vem percebendo a conta-gotas essa situação. Hoje, infelizmente não temos nenhuma política social pública de prevenção contra a droga e de apoio ao usuário e tratamento. A juventude se sente órfão e a maldição da pedra inseticida passa ao seu lado dia a dia.



Arthur Conceição
Cientista Político e membro do Centro de Direitos Humanos e Violência da Univ. Federal do Paraná (UFPR)






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