Muitos jovens não gostam de participar de movimentos sociais, sindicatos, associações, partidos políticos porque acreditam que, entre outros motivos, isso é “perda de tempo”, que “não vai dar em nada”, “é tudo politicagem”.
A mídia explora isso muito bem. Ela faz do jovem um ser estigmatizado e que não se envolve com as causas sociais. De outro lado, o mercado se volta ao jovem como alvo perfeito para vender seus produtos. E para isso usa como arma, a propaganda e o marketing. Nesse aspecto a mídia é fundamental, pois impõe diversos contra-valores e faz disso uma falsa oportunidade para “ser feliz”.
O jovem de hoje é aquilo que o capitalismo sempre sonhou. Ou seja, está dentro de uma das formas criadas pela indústria cultural para ser considerado normal. Para ser valorizado, o jovem hoje tem que estar por dentro da última moda, tem que ter um corpo sarado e ser aceito no meio da galera. Se um jovem ou uma jovem não tem o último tênis da moda, se não tem um corpo cheio de curvas ou é introvertido é deixado de lado, esquecido. Parece que para se sentir incluído é preciso ter certo poder aquisitivo para o consumir para que percebam a sua existência. Como se isso fosse uma senha de reconhecimento.
Com o poder de influência que possui a mídia não impulsiona os jovens para os valores que mantêm a sua dignidade, porque se o jovem toma consciência do quanto é manipulado, o mercado não teria para quem vender seus produtos. O jovem é mais poroso, mais presenteísta, mais hedonista. Para ser um bom consumidor é preciso ser aberto às influências e querer agora. Por isso, os jovens são o alvo perfeito do consumismo. A mídia captura o desejo do jovem para que ele consuma uma falsa identidade, operando no desejo e, sobretudo no inconsciente.
Mas, quando é provocada, quando atacam sua dignidade, a juventude é capaz de empunhar a bandeira e lutar pelos direitos coletivos. Isso é importante: a juventude luta pelos direitos coletivos.
A juventude das décadas de 60 e 70, por exemplo, foi marcada por um senso de revolta e indignação contra a privação da liberdade. Alguns desses jovens enfrentaram a ditadura, foram presos, mortos, desapareceram para nunca mais ser encontrados... Isso revela o quanto a juventude organizada torna-se uma força dinamizadora da sociedade, clamando por justiça e cidadania.
Atualmente, de um modo geral, a juventude não tem uma participação política engajada, mas, segundo a Campanha da Fraternidade de 1992, a maioria das pessoas que participam de grandes manifestações políticas são jovens. A juventude não participa oficialmente de organizações sociais porque tem uma maneira própria de se manifestar diferente das décadas anteriores. Hoje, os jovens se manifestam formando grupos: grafiteiros, skatistas, hip-hop, grupos de rap, e outras tribos juvenis. Esses grupos são maneiras que os jovens têm para manifestar a sua participação na sociedade, em busca de um reconhecimento.
A maioria dos jovens quer terminar os estudos, fazer faculdade, ter um bom emprego, uma boa moradia, ser motivo de orgulho para família. A maioria não consegue isso. A situação pode determinar a concretização ou não dessas expectativas, trazendo ou destruindo esperanças. A realidade socioeconômica não é muito boa para a maioria dos jovens brasileiros, que não têm tempo nem de sonhar, muito menos expectativas de vida digna. São os jovens que não conhecemos, não sabemos o nome, como vive, se tem ou não esperanças, que foram jogados no mar da miséria, vivem marginalizados buscando outras formas de superar a dor de uma vida cruel. São os jovens esquecidos por nós... E, sem perspectivas de vida acabam caindo na marginalidade, formando “galeras”, praticando furtos, homicídios e outros tipos de delitos encarados como um “valor” pessoal e social e dispostos a tudo para manter sua identidade ou acomodam-se diante da situação de exploração.
Por tudo isso, é necessário abrir espaços e oportunidades aos jovens, é preciso acreditar e confiar mais nessa geração, e, principalmente, ouvi-los, acolhê-los. Isso não é difícil. As instituições como a família, a escola, a igreja e outras precisam ter a consciência do seu papel enquanto formadores, precisam estar abertos ao protagonismo juvenil, fazendo, através de meios e instrumentos libertadores, que o jovem escolha o seu caminho com princípios éticos e espírito de comunidade, respeitando suas características e estilo próprio de ser, porque isso é que define a juventude.
E cabe a nós, professores, assessores e formadores de jovens, lideranças e outros comprometidos com a juventude, a missão de “mergulhar” na realidade social e afetiva da juventude. Afetiva porque existem jovens que foram construídos sem amor: nunca se sentiram amados e nunca aprenderam a amar. Isso não acontece somente em famílias pobres. A falta de amor é uma realidade também em muitas famílias da classe média e alta. Talvez falte isso também à humanidade de hoje. Senão, não teríamos sido trocados por máquinas e outras coisas que geram massificação, manipulação, exclusão, revolta...
Para concluir este artigo deixo essa historinha para reflexão:
A Borboleta Azul
Havia um viúvo que morava com suas duas filhas curiosas e inteligentes. As meninas sempre faziam muitas perguntas. Algumas ele sabia responder, outras não. Como pretendia oferecer a elas a melhor educação, mandou as meninas passarem férias com um sábio que morava no alto de uma colina. O sábio sempre respondia todas as perguntas sem hesitar. Impacientes com o sábio, a meninas resolveram inventar uma pergunta que ele não saberia responder. Então, uma delas apareceu com uma linda borboleta azul que usaria para pregar uma peça no sábio: “– O que você vai fazer?” Perguntou a irmã. “-Vou esconder a borboleta em minhas mãos e perguntar se ela está viva ou morta. Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la e esmagá-la. E assim qualquer resposta que o sábio nos der estará errada!”. As duas meninas foram então ao encontro do sábio, que estava meditando: “- Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me sábio, ela está viva ou morta?” Calmamente o sábio sorriu e respondeu: - Depende de você... ela está em suas mãos.
E então jovens? Somos responsáveis por aquilo que conquistamos? Nossa vida está em nossas mãos, como a borboleta azul? Ou está nas mãos de outras pessoas? Será se cabe a nós escolher o que fazer com ela? Ou deixaremos que os outros tomem conta da nossa vida?
Vanilsa P. Souza
Professora, assessora da Pastoral da Juventude de Roraima e estudante do Curso de Especialização em Juventude Contemporânea, da Unisinos (RS).
O texto foi escrito para a disciplina Os Jovens No Contexto Neoliberal, com o acompanhamento do professor Laurício Neumann. A disciplina faz parte do Curso de Especialização em Juventude Contemporânea, do Centro de Ciências Humanas da Universidade do Vale do Rio Dos Sinos (Unisinos/RS).
Disponível em: http://www.casadajuventude.org.br/index.php?option=content&task=view&id=109&Itemid=0
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